México ¿Cómo vamos?
Prensa extranjera
Maioria no Congresso reforçará poder de López Obrador

Henrique Gomes Batista - O Globo

 
03 de Julio del 2018

Publicado en O Globo.

CIDADE DO MÉXICO — Tirando a derrota para o Brasil pela Copa do Mundo logo pela manhã, a segunda-feira foi de normalidade na Cidade do México: não refletia o giro político definido na noite de domingo, quando Andrés Manuel López Obrador venceu com folga as eleições, levando a esquerda ao poder em um movimento histórico. Isso mostra que o país assimilou o discurso de reconciliação e de moderação adotado pelo líder do Morena — que em campanha foi acusado de ser populista, divisionista e demagogo. Mas analistas dizem que há risco de radicalização, turbinado pela conquista histórica do Congresso.

AMLO, como é chamado, não teve apenas 52,9% dos votos, mais que o dobro do segundo colocado; segundo projeções feitas com 93% das urnas apuradas o esquerdista poderá contar com 62% dos deputados (310 de 500) e 53% dos senadores (69 de 128), de acordo com o jornal mexicano "Reforma". O Morena ainda ganhou seis dos nove estados em disputa e teve uma participação dominante na imensa maioria dos legislativos estaduais e prefeituras pelo país. Esta é a maior vitória eleitoral desde o ano 2000, quando acabou o domínio do Partido Revolucionário Institucional (PRI) — que amargou a maior derrota de sua existência.

Essa força pode dar ao presidente amplos poderes, o que seria uma tentação para ele, acusado por opositores de ter um viés autoritário. Mas, surfando na falta de pânico que opositores disseram que sua eleição causaria, AMLO novamente se ofereceu ao diálogo, repetindo o tom adotado em seus dois discursos na noite de domingo.

— Não posso adiantar (se convidará seus concorrentes derrotados para o governo). O que disse é que vou buscar tanto a José António Meade (PRI, com 16,3% dos votos) como Ricardo Anaya (Partido Ação Nacional, ou PAN, 22,5%) como o candidato independente (Jaime Rodríguez, com 5,1%). Vou debater com eles, vamos trocar pontos de vista — indicou, por telefone, à Milenio TV.

AMLO se reúne hoje com o presidente Enrique Peña Nieto para iniciar o processo de transição, que vai até 1º de dezembro, quando assume a Presidência.

Pedindo reconciliação nacional, ele afirmou que nunca tentará uma ditadura “nem aberta e nem camuflada” e defendeu as liberdades empresariais, de imprensa e de culto. Reafirmando que governará primeiro para os pobres, AMLO defendeu que sua “quarta revolução” será feita de forma gradual e responsável.

— Ele fez o discurso que tinha que ser feito, não poderia ter um primeiro dia de eleito com turbulências. Mas o fato é que tudo é muito recente. Usando o futebol da Copa do Mundo como exemplo: o gol acabou de ser feito, a bola nem voltou ao jogo — disse Valeria Moy, diretora-geral do centro de estudos México Como Vamos?.

O mercado financeiro acordou com promessas da equipe econômica do novo presidente de estudar uma reforma previdenciária, respeitar contratos, manter a responsabilidade fiscal e corte de custos na estatal petroleira Pemex. A cotação do dólar, melhor termômetro para a confiança no país, subiu 0,91%.

— O problema das pensões acelera com o tempo — disse Carlos Urzua, escolhido para ministro da Fazenda, à Reuters, em entrevista na qual citou o Brasil como um país que precisa das reformas. — Temos que ser muito responsáveis no México.

O próprio AMLO defendeu a responsabilidade fiscal. Disse que será rigoroso com as contas públicas, sem déficit fiscal, mas que “não ficaremos sem camisa”. Voltou a defender que o dinheiro para seus programas virá do combate à corrupção e do uso eficiente dos recursos públicos. Afirmou que quer manter o México no Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta, junto a EUA e Canadá, em revisão a pedido de Donald Trump).

O presidente eleito tem dito desde a eleição que quer entrar para a História do país de maneira positiva, o que pode indicar a busca por uma via mais consensual.

— Ele pensa em seu legado e o faz ser mais responsável, diferente dos últimos governos, em especial do atual, que é muito imediatista — indicou Valeria Moy.

Mas a questão política pode ser uma tentação. Ter maioria tão ampla no Congresso e o apoio popular acima do normal pode fazer com que ele ceda a instintos autoritários, segundo Roberto Duque, analista e professor da Universidade Autônoma do México (Unam):

— Ele cita tanto que quer entrar para a História como Lázaro Cárdenas (general que nacionalizou o petróleo e fez um governo com forte impacto social), mas pode acabar lembrado como Plutarco Elías Calles (presidente famoso por ter criado o PRI, que ficou no governo por 71 anos) — pontuou Duque, que vê AMLO potencialmente criando um guarda-chuva político tão abrangente quanto o antigo PRI: — Em sua coalizão estão do PT, de extrema-esquerda maoísta, ao Encontro Social, de extrema-direita, ligada aos evangélicos.

‘NÃO MENTIR; NÃO TRAIR; FALAR A VERDADE’

A transição dura cinco meses, e é difícil fazer projeções baseadas nos primeiros discursos. AMLO pode tanto derrapar para o autoritarismo como melhorar a democracia, dando independência real para organismos como o Ministério Público — algo que só existe no papel no país.

Enquanto isso, a maior parte da população mexicana segue a fase de encantamento com o presidente. Seu forte discurso no Zócalo — praça no coração da Cidade do México —, onde disse que vai respeitar três regras com o povo (“não mentir, não trair e falar sempre a verdade”), fez muitos se emocionarem.

— Pela primeira vez sinto que um presidente fará algo de verdade — afirmou o indígena Xquenda Canul. — Hoje é um dia de comemoração.

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